Ohmonizciente - Rescaldos & Resquícios

Teu sonho eras seres sentido e ser famigerado
Reconhecido pelo magote com a sorte de ser venerado
Destacado para ações públicas com rúbricas
Considerações em jornais e em editais seres escalpelizado
Tu querias ser poeta como Henrique Rêgo
Contracenar com a caneta com a chama do chamego
Mover populações, comover gerações, enobrecer razões
Com palavras doutas, imunes ao tempo
Mas eles disseram que eras parvo e que isso é uma utopia
Que o teu futuro é seres escravo da nobiliarquia
Que se não tens herança, então não tens esperança
És mais um servo ignavo, a tua palavra não tem alcance nem serventia
Dizem que a vida não tem contas nem magia
Vais empenhá-la por saldo e artifícios
No lugar de amanhã, agora escreves fobia
E do teu sonho não há rescaldos, só resquícios
(refrão exclusivo da versão remisturada, produzida por Dígito)
Perdi no caminho dos sonhos
A causa justa por que fiz-me o homem que eu sei
Se hoje eu não caminho pelos sonhos
O homem que eu fui pousa na caneta de alguém
(Mas diz-me)
Sonho sim, sonho não
(Quem foste tu)
Sonho sim, sonho não
(Quem foste tu?)
Sonho sim, sonho não
Sonho sim, sonho não

Agora andas sempre de vela e calça de ganga
Cabelo concertado, aprumado e camisa branca
No fastio dum escritório, andas sombrio e merencório
Num horário temerário que te anula e quebranta
Agora andas sempre bem-parecido socialmente
De indumento ataviado mas atrofiado
É que o trocado vai caindo, o desejado e o requerido
Vais-te sentindo revestido mas não realizado
Já não tens tempo para a leitura, denegaste a caneta
Prevaricaste a ventura como todos os teus patrícios
Filho da rotina perjura em que o mundo se amuleta
E do homem que querias ser não há rescaldos nem resquícios

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